Usamos cookies para personalizar e melhorar sua experiência em nosso site e aprimorar a oferta de anúncios para você. Visite nossa Política de Cookies para saber mais. Ao clicar em "aceitar" você concorda com o uso que fazemos dos cookies

Notícias

/

Saúde

/

Cirurgia para enxaqueca dá esperança de cura e é testada no Brasil

Saúde

Cirurgia para enxaqueca dá esperança de cura e é testada no Brasil

Por: Pesquisa Web

 

Quem já teve ao menos uma crise de enxaqueca na vida, sabe o quão difícil é suportar esta dor. Imagine, então, pessoas que convivem com ela há anos, com crises que duram dias, e sem reações positivas a tratamentos. É justamente este o público-alvo de uma nova técnica cirúrgica que está sendo testada no Brasil, pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), em um estudo clínico de doutorado.

Em conversa com o VIX, o médico responsável pelo projeto, o cirurgião plástico Paolo Rubez, conta que a prática é baseada na descompressão de nervos através de técnicas manuais. "Isso porque uma das teorias sobre o aparecimento das dores é a de que músculos e artérias comprimem e irritam os nervos da cabeça, e isso potencializa a liberação de neurotoxinas, desencadeando o processo de incômodo extremo", explica. Segundo ele, a expectativa é de que quase 90% dos pacientes que se submetem ao método saiam curados da mesa de cirurgia.

Cirurgia para enxaqueca
Teoria
No início dos anos 2000, o cirurgião plástico norte-americano Bahman Guyuron, da clínica de cirurgia plástica Zeeba, em Cleveland, relatou que muitos pacientes que procuravam cirurgias estéticas na região frontal ou superior do rosto notavam melhora nas crises de dores de enxaqueca.

Guyuron procurou entender melhor esta relação e desenvolveu pesquisas na região, que confirmaram sua teoria. Rubez afirma que, hoje, o procedimento é amplamente usado pela comunidade médica no exterior e, inclusive, decidiu trazer a técnica ao Brasil após se especializar com o próprio Bahman durante estágios em Cleveland ao longo de 5 anos. O Prof. Miguel Sabino Neto, chefe da disciplina de Cirurgia Plástica da Unifesp, que acompanha o projeto experimental da cirurgia de enxaqueca, também reforça a confiança no tratamento.

Ele aponta que, ainda que não haja comprovação científica suficiente para as entidades médicas brasileiras o liberarem, o método já é algo amplamente usado em outros países e com algumas publicações na área médica.

Como é feita?
Segundo conta o cirurgião plástico, o paciente primeiro precisa entender em qual local da cabeça a sua dor começa. Isso porque será o nervo dessa região que descomprimido na operação. "O método utilizado depende do nervo, mas de modo geral há duas intervenções. Uma delas é 'desligar' a função do nervo e, a partir disso, ele perde sua atividade", conta Rubez.

A outra opção é ressecar a musculatura do nervo, o que não tira sua função, mas consegue diminuir sua compressão. "Fazemos uma cauterização em seus vasos, usando instrumento cirúrgico para isso", comenta o cirurgião. Identificar o local exato em que começa a dor não é o mesmo que saber os gatilhos que levam a ela. "Independente do que desencadeia a dor - seja a ingestão de algum alimento, estresse ou outro -, a cirurgia age do mesmo jeito."

Dessa forma, há algumas possibilidades de intervenção nas regiões da cabeça:
• A mais comum é a frontal, que pode ser feita com as técnicas de desligar ou descomprimir o nervo. Ela é feita em quem tem o início das dores na região dos supercílios. A partir daí, são realizadas incisões nas pálpebras superiores ou no couro cabeludo.

• Na cirurgia temporal, a descompressão dos nervos é realizada no couro cabeludo.

• Na rinogênica, a cirurgia é realizada por dentro do nariz e ajuda quem tem o início da dor atrás dos olhos.

• A intervenção occipital corresponde a dores atrás da cabeça ou na nuca. A cirurgia é feita no couro cabeludo, quase na nuca. Neste caso, também é possível desligar ou descomprimir o nervo com as técnicas manuais do médico.

O conceito por trás dos procedimentos é de que os ramos periféricos destes nervos, responsáveis pela sensibilidade do rosto, couro cabeludo e pescoço, são irritados pela compressão das estruturas ao seu redor, como músculos, vasos, ossos e fáscias.

Esse mecanismo gera a liberação de neurotoxinas que desencadeiam inflamações nos nervos e nas membranas ao redor do cérebro, causando, assim, os sintomas de enxaqueca. As cirurgias são realizadas em ambiente hospitalar e sob anestesia geral ou local, dependendo do caso, com duração de até 2 horas para cada nervo tratado. O paciente pode voltar para casa no mesmo dia.

De acordo com Paolo Rubez, o pós-operatório não é muito doloroso. Há um pouco de inchaço e roxidão nos locais operados. Em geral, é possível retornar à rotina em até 10 dias.

Para quem é indicada?
A ideia é que o procedimento possa ajudar pessoas que sofrem com a forma crônica da doença - isto é, que tenham episódios frequentes (vários dias no mês ou por meses seguidos) e duradouros (horas ou dias de dor ininterrupta) - e que não tiveram resultados com outros tipos de tratamentos e medicamentos. Estes casos são denominados enxaqueca refratária.

"Há pessoas que têm enxaqueca durante 15 dias consecutivos, todos os meses. Estamos falando de casos muito complexos, de quem já tentou de tudo e, ainda, assim não obteve sucesso", conta Rubez.

Riscos e contraindicações já conhecidos
Pacientes que têm diagnóstico de outros tipos de cefaleia, que não a enxaqueca, não devem se submeter à cirurgia. Além disso, quem apresenta problemas de saúde como hipertensão arterial ou diabetes não controlado também têm contraindicação.

Conforme conta o cirurgião plástico, os riscos são os mesmos de qualquer procedimento cirúrgico, caso de possíveis infecções e hemorragias. O médico ainda assegura que não há riscos de sequelas neurológicas graves, do tipo paralisias motoras, por se tratarem de nervos sensitivos.

Entre os efeitos adversos, pode haver alterações de sensibilidade nas áreas operadas devido à manipulação destes nervos, como hipersensibilidade, formigamentos, sensibilidade diminuída, que podem ser temporários ou definitivos. Por fim, há pessoas que não têm melhora no quadro da enxaqueca.

Outra opinião
Para o coordenador do Departamento Científico de Cefaleia da Academia Brasileira de Neurologia, Fernando Kowacs, a questão é polêmica. “Essa é uma técnica de um cirurgião plástico norte-americano e praticamente todos os trabalhos e estudos que foram publicados não envolveram especialistas que estudam a dor de cabeça ou a enxaqueca em si”, pondera.

Ele explica que, cientificamente, para se comprovar a eficácia e segurança de um método, é preciso haver diversos estudos científicos seguindo os mesmos critérios - por exemplo, para dizer se um remédio funciona ou não -, o que, segundo crê, não ocorre com o material apresentado por Guyuron.

Para o neurologista, não há uma sólida comprovação científica sobre a cirurgia de enxaqueca e sua eficácia. "Sempre que você faz um tratamento em que se mexe em nervo periférico, existe um enorme risco de o sintoma não melhorar e ainda ter consequências mais sérias no longo prazo", aponta.

Ainda segundo Kowacs, quando se fala se enxaqueca refratária, que é aquela na qual todos os tratamentos convencionais foram tentados, mas nada deu certo, hoje existem outras boas opções e com segurança comprovada. “O tratamento de enxaqueca com toxina botulínica tem justamente o objetivo de bloquear a transmissão de dor dos nervos periféricos. Porém, é um procedimento que não tem efeito colateral de longo prazo ou irreversíveis, já que é preciso reaplicá-lo diversas vezes”, exemplifica o especialista.

Liberação da cirurgia no Brasil
Conforme explica o neurologista Hideraldo Luís Souza Cabeça, do Conselho Federal de Medicina, para que uma técnica ou remédio novo tenha anuência de conselhos e órgãos brasileiros, existe uma comissão própria para isso. Trata-se da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, que avalia se o procedimento se enquadra dentro das normas éticas de pesquisa. Em alguns casos, outros órgãos competentes, como a própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), podem validar ou não a técnica.

O processo entre pesquisas e comprovação até, de fato, a cirurgia estar disponível para a população pode demorar cerca de 5 anos, dependendo da avaliação dos órgãos sobre a urgência em colocá-lo à disposição da sociedade. Portanto, não é possível dizer ainda se a cirurgia será aprovada para aplicação nos pacientes - ou precisar em quanto tempo isso pode ocorrer.

O que é enxaqueca?
Enxaqueca é uma condição neurológica, cuja principal característica é a cefaleia intensa e latejante, em um ou nos dois lados da cabeça. Em sua forma crônica, ela pode durar dias ou até semanas. A doença acomete ao menos 15% da população mundial, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Sintomas
Entre os sintomas da intensa dor de cabeça está sensibilidade à luz, cheiros e barulho; náuseas, vômitos; sintomas visuais, como pontos luminosos; tonturas, sensibilidade a movimentos ou passar mal em meios de transportes.

Causas
O neurologista Fernando Kowacs explica que ainda não há unanimidade quando o assunto é a causa exata da enxaqueca. No entanto, dados do Ministério da Saúde apontam ansiedade e estresse como possíveis causadores, mas há outros gatilhos, além da causa genética, tão importantes quanto. 

É o caso de ficar por muitas horas em jejum; dormir pouco, muito ou demorar para pegar no sono; acordar no meio da noite; roncar e ter sonolência de dia; tensão pré-menstrual (TPM); excesso de cafeína, principalmente em jejum; e comida industrializada, dentre outros.

 

Relacionados