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Psicóloga de Camaçari fala sobre prevenção ao suicídio

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Psicóloga de Camaçari fala sobre prevenção ao suicídio

Por: Sheila Barretto

Durante o mês de setembro é realizada em várias partes do país uma campanha de prevenção ao suicídio, porém este assunto ainda é tratado com certa reserva pela sociedade e até mesmo pela imprensa. Com o intuito de dar mais visibilidade ao Setembro Amarelo, entrevistamos a psicóloga e neuropsicóloga, Gislenny Benevides, que falou sobre as causas e formas de prevenção do suicídio.

CN: Quais as causas que levam uma pessoa a pensar em cometer suicídio?

Gislenny Benevides: Não existe uma única e exata causa cientificamente comprovada, geralmente, esse sentimento é despertado quando há um fenômeno em sua vida cuja interpretação ocorre de forma tão negativa que conviver com tal elemento se torna insuportável. Dentre alguns dos principais fatores associados ao suicídio estão a solidão, depressão, descontrole financeiro, dificuldades profissionais, eventos com interpretação traumática, sobrecarga de stress, descoberta de doenças graves, problemas conjugais e amorosos, bullying, luto e perdas afetivas, traumas de infância, abuso de álcool e drogas entre outros.

Com isso, a pessoa entra em desespero, e com base em suas experiências passadas e crenças, o sentimento de que não vale mais a pena viver se generaliza e, em muitos casos, a pessoa perde o controle e comete o suicídio. Vale ressaltar que, em sua grande maioria, NÃO há o desejo de morrer, mas por não suportar vivenciar tamanha dor e sofrimento, o suicídio acaba se tornando uma opção de quem já não sabe mais o que fazer, um ato de desespero. É possível perceber que geralmente muito desses motivos que fazem uma pessoa cometer suicídio, poderiam ser evitados.

CN: Por que o assunto ainda é tratado como um tabu para a sociedade?

Gislenny: Eu penso que a falta de informação, de auxílio profissional, a ausência de “coragem” para falar e desabafar sobre o tema com amigos e familiares, a falta de apoio da própria família e da sociedade como um todo, a falta de conhecimento inclusive da própria pessoa e sofrimento, em minha opinião, é um problema social muito mais complexo do que se imagina. Quase sempre as pessoas não se sentem seguras, livres e confortáveis para falar de suas angústias e da própria ideação suicida sem serem julgadas e, em geral, acabam silenciando-se e, consequentemente, alcançado um nível ainda mais profundo de sofrimento.

Eu acredito que esse assunto ainda é um tabu para a sociedade, porque o desconhecido assusta e afasta. É como se vivêssemos buscando justificativa “lógica e mecânica” para a maioria dos fenômenos e quando não encontramos, não sabemos o que fazer, o que pensar.

Quebrar tabus não é fácil, mas é preciso esclarecer, conscientizar e estimular a prevenção para reverter situações críticas como as que nós estamos vivendo. O suicídio deve ser compreendido como um problema coletivo de saúde pública que temos e deve ser encarado por toda a sociedade o quanto antes.

CN: Existe uma faixa etária específica de pessoas que estão mais propensas a tirar a própria vida?

Gislenny: Estudos apontam que o suicídio aumentou gradativamente no Brasil entre 2000 e 2016: foi de 6.780 para 11.736, uma alta de 73% nesse período. As maiores taxas de crescimento foram registradas entre jovens e idosos, do acordo com o Ministério da Saúde. No mundo, o suicídio acomete mais de 800 mil pessoas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

É a segunda causa de morte no planeta entre jovens de 15 a 29 anos — a primeira é a violência.  Já no Brasil, em 2015, o suicídio foi à quarta causa de morte nessa mesma faixa etária, ficando atrás de violência e acidente de trânsito, de acordo com os dados do Ministério da Saúde.

CN: Como a família deve lidar com uma pessoa que está depressiva e que fala em cometer suicídio? O suicida em potencial costuma dar esses “avisos”?

Gislenny: A primeira ação é acolher sem julgar, se colocar a disposição, prestar atenção no máximo de detalhes possíveis acerca do comportamento da pessoa, estudar e buscar ajuda profissional especializada. Não é recomendado colocar frases de efeito, aquelas frases prontas a fim de buscar justificativas de “sendo comum” para o comportamento da pessoa, tão pouco menosprezar e subestimar. Se colocar a disposição de forma a acolher a pessoa, ainda que através de uma simples escuta poda ser extremamente benéfico e salvar a vida de alguém.

CN: O tratamento psicológico é suficiente ou a indicação é de que a pessoas também tenha um acompanhamento psiquiátrico?

Gislenny: A indicação para tratamento é muito subjetivo, mas em geral deve-se considerar a severidade da situação. Normalmente a pessoa com ideação suicida grave, está em um nível de angústia muito profunda e um sofrimento psíquico muito severo e por isso se faz necessário à avaliação e/ou o acompanhamento tanto da psiquiatria, quanto da psicologia.

CN: Campanhas como o Outubro Rosa e o Novembro Azul já possuem um considerável engajamento da sociedade. Com o Setembro Amarelo este engajamento também já pode ser percebido? O que pode melhorar?

Gislenny: O Setembro Amarelo é uma iniciativa brasileira e apesar de ser uma campanha relativamente nova, pois realizou suas primeiras atividades em 2015, vem se destacando de forma muito positiva ao que se refere à prevenção ao suicídio, principalmente por se tratar de ações que mobilizam desde órgãos e empresas de grande porte até pequenos empreendedores com grandes e pequenas ações individuais, coletivas e comunitárias. O suicídio no Brasil possui taxas alarmantes e já faz mais vítimas que a AIDS e mata mais do que vários tipos de câncer e, mesmo assim, muitas pessoas ainda não discutem o assunto e têm medo de encarar as doenças psicológicas que, muitas vezes, levam à morte.

O principal objetivo da campanha é quebrar o tabu que existe envolvendo o suicídio, desmistificar, popularizar e aproximar as pessoas desse tema tornando-o mais acessível e fácil de ser combatido. Mas, para isso, é necessário um esforço coletivo, pois quanto mais se fala sobre esse assunto, menos pessoas cometem suicídio.

 

Mensagem final: Todos devemos fazer a nossa parte e juntarmos força para vencermos esse mal que hoje nos ameaça e nos assola. Não existe dor maior que perder a vida de uma pessoa que amamos de uma forma tão triste e dolorosa. Perder uma única vida para o suicídio é perder um pedaço da nossa historia, da nossa identidade e mais ainda, perder uma parcela de suma importância para o futuro de uma nação, cuja vida é seu bem mais precioso.

 

Gislenny Benevides atende na Clínica Centro Médico do Polo, localizada na Avenida 28 de Setembro (Radial A), nº 1048, próximo ao Corpo de Bombeiros e ao Derba, às segundas, quartas e quintas. Tel. (71) 3028-9100 (71) 9-8553-6603.

Às terças e sextas, a psicóloga atende na Clínica Vidha Linus, na Avenida Radial B, nº 121, Alto da Cruz (em cima do antigo Restaurante Tambor Lascado). Tel. 9-9263-9987 ou 9-9631-3157.

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