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Camaçari
Por: Camaçari Notícias
O PIB do Brasil cresce na velocidade da pilantragem
Essa semana fui ao centro de Camaçari, mais precisamente a uma farmácia comprar remédio para uma criança de seis anos, filho de um amigo meu que não podia ir, que estava atarefado.
Já eram cerca de 19h e já não tinha quase mais ninguém nas ruas. O clima de insegurança, o medo de assalto afastou as pessoas da vida noturna da cidade. Perdemos a noite, e o perímetro produtivo de um dia, está reduzido somente ao período matutino e ao vespertino. Não roubaram a lua, mais nos furtaram a noite.
Ao entrar na farmácia fui atendido por um jovem que não tinha mais do que vinte anos de idade. Fiz o pedido de um antialérgico e ele me perguntou a idade do paciente, e eu respondi que era uma criança.
Então ele olhou para a prateleira, procurou e pegou uma caixa de remédio, que segundo ele era o indicado para a situação. Perguntei o preço, ele consultou no sistema da farmácia e informou que era R$ 18,00.
Achei caro e disse: moço eu pensei em comprar um remédio mais em conta, de quatro, cinco ou seis reais. Você não tem um mais barato?
Nisso outra funcionária ouvindo o que eu disse, falou lá do fundo da farmácia: dá o remédio tal, da marca tal, porque é o mesmo e que custa R$ 9,00. Comprei o mais barato, fui embora e resolvi o problema de saúde do filho do meu amigo.
Sempre soube que alguns funcionários das farmácias, tentam sempre nos vender os remédios mais caros, por orientação dos proprietários e incentivados por uma comissão maior.
Mas confesso que cheguei chateado em casa, porque reparei que o menino que me atendeu era bastante jovem e percebi que essa fraude nas farmácias parece que nunca vai acabar, e que a desonestidade no Brasil é incentivada pela classe empresarial, a mesma que reclama dos assaltos e dos ladrões da política.
Imaginei aquele menino diariamente enganando os clientes, empurrando os remédios mais caros. Mesmo ele ganhando seu salário em um emprego honesto, ele cultiva diariamente a cultura da desonestidade em seu interior.
Pensem que isso acontece com os balconistas de farmácias, mas também lembrem-se dos operadores de telemarketing que lhe vendem produtos que você não quer comprar, nos gerentes de bancos que empurram seguros e títulos de capitalização, no consultor da revisão cara do seu carro nas concessionárias autorizadas. Pensem nos prepostos das operadoras de telefone e internet que acompanham diariamente as fraudes nos consumos dos créditos de celular.
Lembre do garçom que cobra os 10% e sabe que não vai receber no final da noite e do cantor que não vai receber o que foi arrecadado a título de couvert.
Imagine os frentistas de um posto de combustível que vende produto adulterado, que de funcionários passou a ser cúmplice.
Em fim, e é o fim. Passar as pessoas para trás, no mercado brasileiro, tornou-se uma atividade tão rotineira que começa parecer normal. E esse cidadão que frauda seus próprios fregueses diariamente, ainda ganhando um salário para isso, me deixa a séria impressão de que no momento em que ele tiver a oportunidade de se tornar um ladrão, não restará mais vestígios de honestidade que o impeça.
Dizem que a cadeia é a escola do crime. Mas parece que essa escola pode estar mais próxima do que imaginamos, e tem alvará e CNPJ.
O modelo de negócio no Brasil é um modelo desonesto. Nosso maior PIB é fruto da pilantragem.
Não vejo diferença entre o colar do traficante e o carro Corola do dono desonesto de uma farmácia qualquer. Se tudo é fruto de fraude.
Para uma sociedade que tem trabalhadores desonestos como esse balconista de farmácia, não precisamos de ladrão para nos assaltar nas ruas.
Precisamos tirar a hipocrisia dos olhos e ver que isso ta errado. Não é isso que queremos para nossos filhos e muito menos para nossos netos.
*Julio Ribeiro é administrador de empresas, e jornalista editor do Camaçari Notícias
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