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Ferimento por cerol pode 'desligar' vítima na hora, explica perito

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Ferimento por cerol pode 'desligar' vítima na hora, explica perito

Por: Pesquisa Web

Enterro de João Arcangelo no cemitério Jardim da Saudade. Ele morreu após ser atingido por uma linha de pipa quando passava de moto pela Boca do Rio (Foto: Marina Silva/CORREIO)

 

O motociclista João Arcângelo Rend, 56 anos, que morreu após ter o pescoço cortado por uma linha “temperada” com cerol no último domingo (26) ainda conseguiu descer da moto, tirar o capacete e imobilizar o próprio pescoço antes de ser atendido e encaminhado por uma testemunha para um hospital particular. Mas o médico legista Raul Barreto Filho explica que, em situações como a de João Arcângelo, às vezes a vítima sequer sente dor e desmaia imediatamente.

Segundo o perito, isso acontece porque o cerol pode lesionar vasos importantes que estão localizados na região do pescoço: carótida e jugular. O médico explica que a artéria carótida é responsável por transportar o sangue oxigenado ao cérebro. A linha de cerol interrompe esse transporte e o cérebro “desliga” logo que imediatamente, levando a vítima a um desmaio.

Apesar dessa ser a situação mais comum, não foi o que aconteceu com João Arcângelo, que, mesmo com a hemorragia, conseguiu parar a moto, descer e tentar o estancamento do sangue no próprio pescoço. O volume de sangue nesses casos é muito grande e é quase impossível de estancar. Normalmente o óbito acontece pelo que é chamado de choque hipovolêmico, que é quando o corpo padece pela falta de sangue. - comenta o perito.

Embora ainda tenha sido socorrido, João não resistiu e morreu no dia seguinte, após ter uma parada cardíaca na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A esposa da vítima estava na garupa da moto e não teve nenhum ferimento. Titular da 9ª Delegacia (Boca do Rio), que fica próxima do local onde aconteceu o acidente,  o delegado ACM Santos avalia que será muito difícil chegar ao autor da morte do motociclista. "Não vai encontrar. Não tem como encontrar.

João ainda conseguiu descer da moto após ser atingido no pescoço
(Foto: Reprodução)

O próprio dono da linha não deve imaginar que cometeu o desatino. O inquérito está aberto, vamos botar todo o trabalho para encontrar, ouvir pessoas, acionar peritos, mas é muito difícil de encontrar o responsável. Quem empina raia sabe, a linha vai longe e simplesmente não dá para ver até onde vai. É uma fatalidade, acabou com meu dia e olha que estou acostumado com absurdos", explica ACM.

Apesar de achar improvável encontrar o autor, o delegado garante que não vai medir esforços para identificar o responsável pela linha que cortou o pescoço de João Arcângelo. Além disso, ele explicou que ações preventivas e de conscientização serão tomadas pela Polícia Militar.  Um reunião foi convocada pelo delegado para pedir suporte à Guarda Municipal na realização dessas medidas preventivas junto à população.

Legislação
O uso de cerol nas linhas de pipas, papagaios, raias ou pandorgas é proibido segundo a Lei Municipal 9.217/2017. O projeto é do vereador Tiago Correia (PSDB) e foi sancionado pelo prefeito ACM Neto em junho de 2017. A lei prevê responsabilização cível e penal para quem infringi-la, além de multa de R$70 em caso de reincidência na infração.

Quanto aos motociclistas, existe um equipamento chamado de “antena corta-pipas” que pode prevenir esse tipo de acidente, mas a obrigatoriedade de uso, segundo o Código Nacional de Trânsito, restringe-se às “motocicletas e motonetas destinadas ao transporte remunerado de mercadorias”, ou seja: mototaxistas e motofretistas (mais conhecidos como motoboys).

A prefeitura de Salvador é a responsável por fiscalizar o serviço prestado por mototaxistas e motoboys na cidade. Isso inclui averiguação de equipamento obrigatório. O Departamento Estadual de Trânsito da Bahia (Detran-Ba) oferece cursos gratuitos de conscientização onde os profissionais “são orientados sobre a obrigatoriedade dos equipamentos de segurança, incluindo a antena para a proteção contra as pipas com cerol”. Ainda segundo o Detran, o órgão confere, em suas blitzes, todos os equipamentos de uso obrigatório pelos motociclistas.

Fiscalização
A Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop) informa que começou a fiscalização contra o uso de pipas com linhas cortantes em áreas públicas e comuns em Salvador a partir de junho do ano passado, após publicação da Lei Nº 9217/2017, de 2 de junho.

As ações são intensificadas de agosto a outubro, período em que as condições do vento facilitam esse tipo de prática. Ainda segundo a Semob, nas operações, os fiscais chegam de surpresa, mas os praticantes correm, deixando no local linha chilena e com cerol. Por conta disso, até o momento, não houve registro de flagrante dessa infração no momento da ação dos fiscais.

De acordo com a lei, é proibido o uso de cerol ou de qualquer outro tipo de material cortante nas linhas de pipas, de papagaios, de pandorgas e de semelhantes artefatos lúdicos, para fins de recreação ou com finalidade publicitária. Quem descumprir a determinação pode sofrer advertência e multa no valor de R$70,00, no caso de reincidência.

Os valores arrecadados através dessa multa serão destinados ao Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (FMDCA). Vale ressaltar que o pagamento da multa não exime o infrator das respectivas responsabilidades civil e penal, no caso de registrarem, com o uso de cerol, danos à pessoa física, ao patrimônio público ou à propriedade privada. Fonte: Jornal Correio*

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