Jovens em medidas socioeducativas respondem provas do Enem

Jovens que cumprem medidas socioeducativas em Salvador deram mais um passo para deixar o passado de transgressões de lado e trilhar o caminho da ressocialização, a partir da educação. Nesta quarta-feira (12), internos das Comunidades de Atendimento Socioeducativo (Case) Salvador e Feminina, no bairro de Tancredo de Neves, formaram-se no ensino fundamental e outros fizeram o Exame Nacional do Ensino Médio para Pessoas Privadas de Liberdade (Enem PPL).

A diretora adjunta da Fundação da Criança e do Adolescente da Bahia (Fundac), entidade coordenadora das unidades socioeducativas, Fabiana Buriti, explica que essas “são ações estratégicas para a mudança de vida desses adolescentes que são atendidos. Educação muda vidas, principalmente para jovens que, muitas vezes, estavam fora da escola antes de entrarem na Case”.

O Enem foi aplicado para 30 internos da Case Salvador, que estudam no Colégio Estadual Roberto Santos, instalado dentro da própria unidade. Na terça (11), eles responderam às provas de linguagens e ciências humanas, enquanto nesta quarta (12) foi a vez de matemática e ciências da natureza. Viabilizada por um termo firmado entre a Fundac e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep), a aplicação do exame possibilita que os jovens tenham chance de ingressar em universidades.

"A aplicação do Exame é praticamente como a convencional. A diferença é o processo de inscrição, que é realizado pelo responsável pedagógico da unidade socioeducativa, assim como o local de realização que, nesse caso, é a própria Case. Caso esses estudantes obtenham a pontuação designada pelo Enem, eles terão direito de acesso ao Ensino Superior”, detalha a coordenadora de Educação da Fundac, Mercedes Agrícola.

Ensino fundamental

Composto por 27 jovens, com idades entre 16 e 18 anos, outro grupo de internos concluiu o ensino fundamental na Escola Municipal Carlos Formigli, que também fica dentro da Case Salvador. A formatura, nesta quarta (12), foi acompanhada por olhares atentos e emocionados de familiares, amigos e professores.

Uma das formandas, Sueli Guimarães (nome fictício), 18 anos, nascida em Santo Amaro, cumpre medida socioeducativa na Case Feminina há sete meses. "Antigamente, eu não estava nem aí para nada e só queria saber de roubar, vender drogas e andar armada. Hoje eu acredito, sim, que qualquer um pode mudar de verdade. Eu vou abraçar essa oportunidade que a vida me deu e, quando sair daqui, vou fazer faculdade de enfermagem e cuidar da minha mãe e minha filha, que precisam de mim”, declara.

A educadora de Medidas da Case Feminina, Ana Lúcia Moreira, lembra que "quando os jovens chegam à unidade, estão sem perspectiva de vida. Mas a socioeducação renova e renova muito. Cerca de 90% dos internos, quando saem da unidade, saem preparados para adentrarem no mercado de trabalho”.

Juntas, a Case Salvador e a Case Feminina abrigam, atualmente, 264 adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas.