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<b>Lojinha vendia armas ilegalmente há mais de 30 anos na Bahia</b>

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Lojinha vendia armas ilegalmente há mais de 30 anos na Bahia

Por: Pesquisa Web

Otto Morbeck em sua loja de secos e molhados, em Teixeira de Freitas, onde também vendia armas e munições ilegalmente (Foto: Sulbahianews/Divulgação)

No comércio de Teixeira de Freitas, maior cidade do Extremo Sul da Bahia, com 161 mil habitantes, a Casa Morbeck, uma loja de secos e molhados, é famosa há décadas por “vender de tudo”. O dono, Otto Moreira Morbeck, um senhor de 86 anos, é um dos primeiros comerciantes do local, onde chegou em 1969, quando Teixeira de Freitas ainda era um povoado dividido ao meio entre os municípios de Alcobaça e Caravelas.

Devido à oferta de produtos (utensílios para cozinha, bebidas artesanais, alimentos em geral, etc.), conquistou uma clientela que mantém até hoje, no mesmo lugar, cuja estrutura permanece a mesma desde o início. De tão querido, seu Otto chegou a ser, em 2015, um dos homenageados da Prefeitura nas comemorações dos 30 anos de emancipação política de Teixeira de Freitas que se desenvolveu a partir da construção da BR-101.

Há uma semana, contudo, a fama de “vender de tudo” da Casa Morbeck ganhou ares sombrios com a descoberta de que, paralelo ao comércio de secos e molhados, seu Otto vendia também armas e munições a criminosos, a civis com porte legal para ter arma e a policiais civis e militares.

“Isso [incluindo a venda a policiais] ocorria há mais de 30 anos, e era sabido de todo mundo”, disse o advogado Henrique Sandes Ronacher, defensor de seu Otto, preso no dia 11 de outubro com mais três comerciantes que praticavam os mesmos delitos. Com eles, todos vistos como homens de bem no comércio local, as polícias Civil e Militar encontraram 122 armas de fogo de diversos calibres, 1,2 mil munições e três quilos de chumbo, numa operação de nome cinematográfico: “Senhores das Armas”.

Artefatos
Entre as munições apreendidas e de uso restrito das forças armadas estão as utilizadas em fuzil 7,62 e 5,56, em pistolas e submetralhadoras 9mm. Foram encontradas ainda munições de arma calibre ponto 50, utilizadas em metralhadoras.

Os outros comerciantes são Dourivaldo dos Santos, da loja “Julinho Sanfona”, e Agnelson Ferraz, o Guigui, e Ulimar Cardoso Ferraz, ambos da Oficina Confiança. Todos os envolvidos “foram presos em flagrante e autuados por venda ilegal de armas.” De acordo com a Polícia Civil, a clientela dos comerciantes ia desde pessoas com autorização para porte de armas de fogo, moradores da zona rural que possuem armas de forma legal ou ilegal, “até os criminosos que praticam homicídios e roubos”.

Cidade violenta
Na estatística nacional, Teixeira de Freitas é o 7º município mais violento do Brasil e o 3º da Bahia, segundo o Atlas da Violência 2017, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e divulgado em junho. Na pesquisa, que teve como alvo municípios de mais de 100 mil habitantes, Teixeira de Freitas possui taxa de homicídios de 72,2 para cada 100 mil moradores, quando o aceitável pela Organização das Nações Unidas (ONU) é a razão de 10/100 mil. 
Os dados da pesquisa têm como base o ano de 2015, quando foram registrados 114 homicídios dolosos na cidade. Em 2016, foram 109 homicídios e, até maio deste ano, 33, de acordo com a Secretaria da Segurança Pública (SSP). 

As tentativas de falar com seu Otto também foram frustradas: na loja, um funcionário dizia que ele tinha ido em casa tomar café; e na casa, a esposa falava que seu Otto tinha ido para o comércio. Isso ocorreu por três vezes na tarde desta quarta-feira (18). “Com ele [Otto] só tinha munição de armas”, afirmou o advogado Henrique Sandes Ronacher, que não soube informar a procedência do artefato vendido de forma ilegal pelo cliente.

Sem controle
A delegada Valéria Fonseca Chaves, coordenadora da 8ª Coordenadoria de Polícia do Interior (Coorpin), contou que as vendas nas três lojas eram feitas sem nenhum controle e que as armas estavam acessíveis a qualquer pessoa. Ela disse desconhecer que policiais civis ou militares se utilizassem dos serviços dos comerciantes.

“Individualmente, os policiais que atuam em Teixeira de Freitas já vinham recebendo informações sobre a atividade ilícita desses alvos há algum tempo. Em algumas prisões e levantamentos sobre crimes onde armas de fogo eram utilizadas, os alvos da operação vinham sendo citados como fornecedores de munições e armas, além de serviços de manutenção desse tipo de material”, contou a investigadora.

Já era tradição
Na delegacia, os presos afirmaram que “prestavam esse tipo de serviço há mais de 10 anos na cidade”, tendo se tornado “uma referência informal para manutenção, troca e venda de armas usadas”. A delegada disse ainda que teve “informações de criminosos que utilizaram serviços de manutenção em armas e compraram munições nos estabelecimentos alvos da operação para a prática de seus crimes”.

“Entretanto, em regra, os comerciantes que trabalham ilegalmente nesse ramo não possuem o dolo na prática dos crimes executados por seus clientes. Tanto que o Estatuto do Desarmamento definiu o crime do artigo 17, que visa especificamente a coibir essa atividade de venda ilegal de armas. No nosso entender, a pena de 4 a 8 anos de reclusão prevista para esse crime é proporcional à sua gravidade e atende à finalidade de coibir essa prática”, finalizou. Informações do site Correio*

Parte das armas apreendidas em três lojas de Teixeira de Freitas, no Extremo Sul do estado (Foto: Divulgação)

 

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