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'A dor vai ficar', diz sobrevivente de chacina com 12 mortos

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'A dor vai ficar', diz sobrevivente de chacina com 12 mortos

Por: G1

As vítimas da chacina ocorrida durante réveillon

"Hoje, a dor é presente de todos os lados". A afirmação, em tom de desalento, é de Admilson de Moura, um dos sobreviventes da chacina que deixou 12 mortos durante uma confraternização familiar na noite de réveillon, em Campinas (SP). No domingo (8), amigos e parentes das vítimas lotaram a Paróquia Santa Edwiges, no Jardim Aurélia, durante a missa de sétimo dia.

Entre a noite de 31 de dezembro e a madrugada de 1º de janeiro, Sidnei Ramis de Araújo pulou o muro de uma casa na Vila Proost de Souza, assassinou a ex-mulher, Isamara Filier, de 41 anos, o filho de 8, outras dez pessoas e se matou na sequência. Confira o que se sabe sobre o crime. Moura foi baleado por Araújo quando estava na garagem da residência. Internado no Hospital Celso Pierro, ele gravou um depoimento para o Fantástico sobre as lembranças da tragédia.

"Ele já chegou dando tiro em todo mundo, não dando chance pra defesa de ninguém. Depois entrou pra dentro da casa dando tiro nas mulheres [...] Eu apaguei por alguns segundos e acordei ouvindo barulho de tiro, muito tiro... Cheiro de pólvora para todo lado", explica. A mulher de Moura está entre as vítimas, enquanto o filho, segundo ele, escapou por pouco do atirador. "Ele [Araújo] se matou e não tem quem cobrar, a dor vai ficar com a família... Vai ficar com a gente, não tem muito o que fazer não", lamenta.

Tiros e fogos

Outro sobrevivente da chacina, que preferiu não ser identificado pela reportagem, contou que, quem estava na casa, confundiu os sons dos tiros com os fogos de artifício. "Tava todo mundo reunido, feliz, se preparando pra passagem do ano. A princípio, todo mundo achou que eram fogos."

Ele conseguiu se esconder do atirador e lembra que Araújo também tentou invadir o banheiro onde dois adolescentes se abrigaram durante a série de assassinatos. "Tentou mais de uma vez, ficou lá bastante tempo tentando arrombar a porta", conta a testemunha.

Disputa judicial
Sobre a disputa judicial entre Araújo e Isamara pela guarda do filho João Victor, de 8 anos, o sobrevivente afirma que a mulher não impedia o ex-marido de estar com o menino. 
"A Isamara nunca proibiu ele de ver o filho. Ele tinha contato por telefone e pessoalmente e ela nunca cessou o contato com ele", ressalta. Além disso, diz que a família não se envolvia nos problemas do ex-casal. "Os outros que ele [Araújo] matou, muitos não viam ele há muito tempo."

Investigações
A perícia concluiu avaliação sobre a pistola 9 milímetros usada na chacina. O número de série da arma chegou a ser identificado, mas não há registro dela nos arquivos policiais, o que dificulta a localização do responsável pela venda para Sidnei Araújo. 
O Instituto de Criminalística ainda aguarda a chegada de áudios e escritos deixados pelo atirador para tentar descobrir mais informações sobre os planos dele.

Áudios, carta e diário
O atirador da chacina gravou uma série de áudios onde conta sobre a suposta compra da arma usada nos assassinatos e pede perdão "pelos transtornos". Entre as gravações obtidas pela EPTV, ele menciona que ocultou a numeração da pistola para tentar proteger a suposta vendedora e espera que ela não saiba sobre o uso. "Eu raspei toda essa numeração para que ninguém consiga prejudicar a mulher, coitada. Espero que ela nem fique sabendo disso, senão ela vai pensar que vai morrer, vai para o inferno e vai deixar os filhos aí."

Em outro trecho da gravação, o atirador evidencia o plano de cometer o crime durante o Natal e pede perdão aos policiais pelos "transtornos" que causaria. "Quero pedir desculpas até mesmo para a polícia, para o resgate. Vou gerar muitos transtornos, vocês não vão nem conseguir almoçar direito, ter o descanso do almoço no Natal. Me desculpa", afirma.

Antes dos crimes, o atirador também escreveu uma carta para os amigos e a namorada, além de mensagens para o filho. No documento de oito páginas, ele explica que estava se vingando da ex-esposa porque ela dificultava seu relacionamento com o filho, escreve frases de ódio contra as mulheres, se diz injustiçado e ainda fala dos planos de assassinar a família.

Além da carta e dos áudios, Araújo também deixou um diário, onde há relatos da convivência com a ex-mulher e mandou mensagens ao filho. Nas 44 páginas do caderno, escrito desde 2012, o atirador conta a briga judicial com Isamara e demonstra que premeditava o crime.

Sobreviventes
Dos três sobreviventes feridos durante a chacina, dois ainda continuam internados no Hospital Municipal Dr. Mário Gatti e no Celso Pierro. O estado de saúde deles é considerado estável.  Além disso, dois adolescentes e uma mulher com uma bebê de colo conseguiram escapar.

As mortes
Araújo invadiu a casa na Vila Prost de Souza com a pistola, dois carregadores, um canivete e dez explosivos. Ele atingiu 15 pessoas, sendo que 11 morreram no local e uma das vítimas socorridas não resistiu. O filho dele foi o último a ser assassinado antes do suicídio. O atirador, de 46 anos, trabalhava como técnico no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), que reúne alguns dos principais laboratórios de estudos e inovação do governo federal. Por meio de nota, a instituição lamentou o ocorrido.

 

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