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Filho de PM suspeito de matar ex segue foragido: 'Coração sangra'

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Filho de PM suspeito de matar ex segue foragido: 'Coração sangra'

Por: G1

Andreza Victória, adolescente que foi morta a tiros no bairro de Itapuã e o ex é o principal suspeito (Foto: Reprodução/Facebook)

Pelo resto da minha vida, serei incompleta. A minha vida, a vida de minha filha, acabaram com uma bala", lamenta a consultora Lívia Tito, mãe de Andreza Victória Paixão, a adolescente de 15 anos que foi morta na casa do ex-namorado Adriel Montenegro dos Santos, de 21 anos, no bairro de Itapuã, em Salvador.

O crime completa três meses na segunda-feira (17), e de lá para cá, Adriel, o principal suspeito do crime, está foragido - mesmo já inserido no Baralho do Crime, que caça os criminosos mais procurados do estado da Bahia. A prisão temporária já foi concedida pela Justiça, e policiais buscam por Adriel, que pode responder pelo crime de feminicídio. Andreza completaria 16 anos na quinta-feira (13) e, para esta nova etapa da vida que teria, a adolescente já tinha planos. Ela sonhava em entrar em um curso de maquiagem, mas que só poderia fazê-lo a partir dos 16 anos.

"Minha filha era uma sonhadora, ela sonhava em ser maquiadora, ela adorava se maquiar. Ela não ficava sem batom. O sonho de qualquer mãe é formar o seu filho, ver seu filho casar, ter filhos. O que ela mais me pedia era o curso de maquiagem, mas ela não podia fazer ainda porque tinha que ter pelo menos, 16 anos, para poder entrar [no curso]. Minha filha era um encanto de pessoa. Quem teve o privilégio de conhecer, via a menina doce e meiga que ela era".

Todos da família ainda estão abalados com a situação e a mãe dela, avó de Andreza, continua inconformada em ter perdido a neta. A consultora diz que não tem alegria em viver, lembra da filha a todo momento, mas que procura motivação de vida com apoio da família, da filha mais nova, de 12 anos, e do marido, o padrastro de Andreza.

Lívia é separada do pai da adolescente, Márcio Paixão, com quem Andreza morava desde os 5 anos de idade. Em uma breve conversa com o G1 por telefone, ele revelou que se mudou do imóvel que morava com Andreza porque não aguentaria mais viver no mesmo local.

Apesar de estarem em casas diferentes, os pais da adolescente moravam no mesmo bairro. Ela estava sempre com a mãe, principalmente aos finais de semana. Uma das coisas que Andreza mais gostava de fazer, conta a mãe, era a ir para casa de praia da família no Litoral Norte da Bahia.

Diante da tragédia e de tantas lembranças, a consultora revela que a família ficou desestruturada após o crime e que, desde então, ela sente um misto de tristeza e revolta. "Minha filha não estava doente e morreu, ela foi assassinada por um ego machista, não foi por amor. Ele [Adriel] destruiu a minha vida, uma parte de mim se foi. Ele desestruturou toda minha família. Eu posso virar milionária, ter a maior realização profissional, familiar. Nunca mais vai estar completo, sempre vai faltar a minha filha. Eu costumo dizer que meu coração sangra 24 horas", revela.

A consultora contou ainda que Andreza era muito alegre, brincalhona e que gostava de ajudar as pessoas. No dia do enterro da adolescente, um morador de rua de Itapuã, perto da casa onde ela morava com o pai, relatou que Andreza o ajudava. "Minha filha tinha um "coração de ouro". "Ele [morador de rua] se aproximou e contou que todos os dias ela dava comida a ele e disse: 'Eu chamava ela de boneca de louça. Quem vai me dar comida agora? Eu nem sei o nome da minha boneca de louça'", destacou Lívia.

Adriel Montenegro dos Santos está no Baralho do Crime da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (Foto: Divulgação/SSP_BA)

Procura-se Adriel
Enquanto Adriel Montenegro não é preso, a família não desiste em pedir por justiça e deseja que ele seja encontrado para que possa responder pelo crime. Amigos e parentes já realizaram alguns protestos na capital baiana para pedir celeridade no caso. "Eu queria que esse homem fosse preso para concluir esse círculo da minha vida. Esse infeliz círculo. Para mim, nada vai trazer minha filha de volta isso é uma condição imposta pela vida. A vida me impôs viver sem minha filha. Se eu morrer, matar, nada vai trazer ela de volta. Eu durmo e acordo com essa angústia", revelou Lívia.

No mês seguinte ao crime, em maio, Adriel foi incluído no "Baralho do Crime" da Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA), uma catalogação de fotos e informações dos bandidos mais procurados do estado, mas até agora a polícia não divulgou se tem pistas do suspeito. "Tudo que vem para acelerar o caso referente a Adriel a gente vê um ponto positivo. É um sofrimento você ficar indo para delegacia. Eu não tive como viver meu luto distante de tudo isso, porque ele está foragido. Já são três meses. Um cara que matou, sumiu, ninguém sabe, ninguém viu", disse Lívia.

No crime, a polícia já constatou a arma usada para matar Andreza é de uso restrito das Polícias Civil e Militar, mas conforme a Polícia Civil, que investiga o caso, ainda não há informações do dono da arma. O pai de Adriel é policial militar e foi ouvido no dia do crime. A delegada que participou das investigações, Milena Calmon, disse que o pai do suspeito informou que não sabe o paradeiro do filho. "O pai alega não saber aonde [Adriel] está. Ele disse que tinha acabado de chegar em casa [ no dia do crime] quando viu a menina agonizando e levou para a UPA da região", contou a delegada.

Andreza Victória e Ariel Montenegro estavam separados quando ocorreu o crime conforme relato da mãe da adolescente (Foto: Arte G1)

O relacionamento
A mãe de Andreza, a consultora Lívia Tito, disse que uma amiga da filha revelou detalhes sobre o namoro da filha com Adriel. Segundo Lívia, a família, tanto materna quanto paterna, só ficou sabendo da existência do rapaz no dia do crime. "Ninguém consegue explicar qual foi o relacionamento de Andreza com esse menino. Minha filha se relacionou com ele, eu descobri agora, há pouco tempo. Ela já tinha quatro meses sem ter contato com ele. Eles terminaram em dezembro", disse Lívia sobre as informações que obteve com uma das amigas da filha.

A consultora relata ainda que o relacionamento, de cerca de nove meses, foi uma surpresa para toda a família, que era algo sigiloso, e acredita que Adriel tinha algum empecilho a ponto de não ser apresentado para a família da adolescente. A amiga contou ainda que Andreza não estava namorando com Adriel quando foi morta.

Além do relacionamento, Lívia descobriu através das amigas de Andreza, como Adriel conseguiu levar a adolescente até a casa dele no dia do crime. O que contesta a versão da polícia, que disse que Andreza encontrou com Adriel na escola e saiu caminhando com ele até a casa do suspeito, onde ocorreu o crime. Conforme Lívia, Adriel teria seguido Andreza até a escola onde ela estudava, roubou a mochila dela e disse que só devolveria se ela fosse à casa dele buscar.

"Ele só chamava ela para conversar e ela negando. Daí ele premeditou tudo [o crime]. Ele perseguiu Andreza até a escola, lá ele roubou a mochila de minha filha para que ela fosse obrigada a ir na casa dele. A amiga dela disse que ela ficou tensa durante aula e que pediu para que alguém fosse com ela até a casa dele, mas ninguém pode. Um amiguinho ia com ela e pediu a ela para esperar. Disse: deixa eu cortar o cabelo que eu vou com você. Eles [Andreza e o amigo] foram até determinado local, mas ele [o amigo] entrou para cortar o cabelo e Andreza seguiu, não esperou", relatou.

Sobre a versão da mãe, a Polícia Civil disse que não tem detalhes sobre essa informação dada pela mãe de Andreza até porque Adriel ainda não foi ouvido. Contudo, a mochila da adolescente foi achada pela polícia na casa do suspeito.
Segundo Lívia, apesar de não morar com a filha, era participativa na vida da adolescente e ressaltava frenquentemente a importância da jovem contar com a mãe como uma amiga para que relatasse dúvidas, problemas, relacionamentos amorosos, entre outros.

"Se ela leva alguém para namorar na porta, a mãe vai ver de onde é a família, de onde é, qual é a índole. Então, ela não podia levar porque sabia que a gente não ia aceitar por algum motivo. O namoro, além de escondido, era sigiloso. Eles se paqueraram, foi coisa de meses, de qualquer adolescente, normal paquerar. Ela sabia que a gente ia investigar e descobrir que ele não vale nada, como de fato, tirou a vida dela", disse Lívia. Lívia aproveitou para fazer um alerta aos jovens com relação a estreitar o relacionamento com os pais e confiar neles para relatar qualquer situação de conflito pessoal, amoroso ou de amizade.

"Costumo dizer que conselho de mãe é aviso de Deus. Sempre abri os olhos de Andreza em relação à amizade, a namoro. Quer namorar, namore. Mas apresente alguém que tenha uma índole boa, que seja de boa família. Que quando quisesse conversar algo, que converse comigo. Minha filha [Andreza] tinha cinco mil seguidores no Facebook, tinha três mil amigos. Quando ela postava fotos, eram muitas curtidas. Hoje se você for em uma manifestação dela, tem duas a três amigas. No enterro dela foi desespero de amigas chorando, gritando. Hoje eu mostro para minha outra filha [mais nova] essa realidade, que eu sou a única amiga dela. Eu e a família dela", concluiu.

Caso
Andreza foi morta no dia 17 de abril deste ano. Conforme a versão da polícia, o suspeito encontrou com Victória Paixão no Colégio Rotary, onde ela estudava e, de lá, eles seguiram caminhando para a casa dele, que fica no mesmo bairro. Ao chegar na varanda do imóvel, a vítima foi baleada na nuca. A adolescente foi socorrida para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro de Itapuã pelo pai de Adriel, mas não resistiu e morreu. A Secretaria de Segurança Pública aponta que ele matou a garota por não aceitar o fim do relacionamento.

Victória foi enterrada no dia 18 de abril, no Cemitério Bosque da Paz, no bairro de Nova Brasília, na capital baiana. Uma multidão, entre amigos e familiares da adolescente, participou da cerimônia de despedida. A comoção marcou o sepultamento.

De acordo com a Polícia Civil, o suspeito matou a vítima porque estava inconformado com o fim da relação que tinha com ela. Após a divulgação do crime, o perfil do suspeito em uma rede social foi visitado por internautas revoltados com o caso, que deixaram mensagens de repúdio ao crime e até ameaças ao jovem. "Assassino", escreveu um internauta. "Você vai pagar", disse outro.

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