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Amores livres: quando apenas duas pessoas não bastam para a relação

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Amores livres: quando apenas duas pessoas não bastam para a relação

Por: Sites da Web

É possível amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo? Muita gente garante que sim. A nova série do canal pago GNT, “Amores Livres”, destrincha com muita sensibilidade e honestidade vários tipos de relações, entre elas a de poliamor, ou seja, a prática de construir relacionamentos conjugais estáveis com mais de uma pessoa.

Dirigida por João Jardim, a atração mostra as delícias e as dificuldades de quem optou por viver relações livres. “Em geral, essas pessoas já tentaram a monogamia, mas perceberam que poderiam ser mais completas e satisfeitas de outra forma. Então, partem para o poliamor”, conta o diretor. Segundo ele, é uma relação como outra qualquer, com medos, anseios e desejos. E alvo de preconceito.

“Além de lidar com as contas da casa, o mercado, buscar filhos na escola e levar o cachorro para passear, estas pessoas enfrentam uma invisibilidade. A sociedade não os enxerga e, quando o faz, é de forma preconceituosa. Como se fosse algo de outro mundo e errado”, continua Jardim.

A poligamia sempre existiu e de acordo com Ailton Amélio, psicólogo e especialista em relacionamentos, a civilização é cíclica e as coisas tendem a voltar depois de um tempo e novamente caem no ostracismo.

“Há mais de 800 registros de civilizações poligâmicas. Hoje temos um desejo de liberdade, de emancipação, como já existiu na antiguidade. Ao mesmo tempo, vemos uma reação a isso, que é uma forte onda conservadora se formando em camadas da sociedade”, diz Amélio. Para ele, a pós-modernidade trouxe novas visões para os laços afetivos.

“Houve uma flexibilização, as pessoas querem mais das relações e da vida como um todo. O modelo de monogamia tem fracassado, mesmo o casamento tem se mostrado insustentável. Daí as pessoas buscarem novas formas de criar vínculos amorosos”, explica.

No entanto, é importante diferenciar estas novas configurações do que consideramos simples traições. “A relação poliamorosa é consensual. Todos os envolvidos concordam e sabem de tudo que está acontecendo com os parceiros. Há muita honestidade envolvida. Se uma das partes omite algo, isso já configura uma traição”, afirma Amélio.

No entanto, a forma de poliamor não é para todos. “Para uma pessoa muito ciumenta ou possessiva, uma relação poliamorosa é uma violência. Vai trazer sofrimento e estresse gigantescos que vai acabar por desgastar a relação”, alerta o psicólogo.

Conheça duas histórias de amores livres:

“Meus amigos me enxergam como um coitado”

A internet facilita novos encontros. Foi exatamente o que ocorreu com Lucas*, webdesigner, 21 anos, que está em um relacionamento homoafetivo há um ano e meio com Fernando*, 22 anos, quando esse reencontrou por meio do Facebook um amor de adolescência, Maria*. “Fernando conversou comigo, contou que tinha vontade de rever a antiga namorada e que ainda sentia atração por ela. Ele disse que queria minha aprovação para sair com ela, mas não desejava terminar nossa relação.”

A possibilidade de uma terceira pessoa entrar no relacionamento abalou o namoro e o casal ficou separado por 40 dias. Após várias conversas, eles reataram e Lucas permitiu que Fernando encontrasse a ex. “Aceito desde que ele nunca me esconda nada e que isso não envolva mais pessoas. Ele pode sair com ela, transar, desde que eu seja sempre a prioridade e que eles não namorem. Outra condição é que eu não desejo ter contato com ela. Sei quem é pelas redes sociais e ela sabe de mim, mas nunca nos encontramos.”

Como moeda de troca, Fernando deu a Lucas a opção de sair com outra pessoa. “Ainda não conheci ninguém que tenha me despertado essa vontade. Continuo só com o Fernando.” Sobre o preconceito e a dificuldade de assumir uma relação que foge dos padrões, Lucas é categórico: “No começo foi difícil e é claro que sinto ciúmes. Mas ele nunca mentiu para mim e sempre continuou o mesmo comigo. Acho que não devo privá-lo de viver isso, mesmo porque um dia eu também posso estar no lugar dele. Prefiro a verdade à mentira. Mas é fato que muitas pessoas não entendem. Meus amigos me acham bobo por deixar ele fazer isso comigo. Sinto que eles me enxergam como um coitado.”

“Fiquei com medo, mas foi muito libertador”

O desejo de viver uma relação sincera fez com que a artista plástica Adriana*, 25 anos, se envolvesse com a colega de faculdade Mariana*, 21 anos. Lésbica assumida desde a adolescência, Adriana relacionou-se com diversas meninas até então em relações monogâmicas. “Eu me sentia presa e triste. Depois de um tempo com a garota, sentia o desejo de sair com outras. Eu tentava reprimir ao máximo isso em mim, mas sempre acabava traindo”, conta. Mariana mostrou a ela outras possibilidades.

“Senti uma forte ligação com ela. Algo que ia além da química, pois pensávamos de formas parecidas. Ela já tinha vivido uma relação poliamorosa anteriormente e me fez a proposta de tentarmos. No começo, fiquei com medo, mas ao mesmo tempo foi muito libertador. Senti que estava descobrindo um mundo inteiramente novo, onde eu podia amar e ser amada, sem me sentir aprisionada ou culpada por isso.”

Adriana e Mariana estão juntas há seis meses e estão construindo a configuração do relacionamento. “Não temos regras específicas. Nos preocupamos apenas em não mentir uma para a outra e sermos 100% sinceras. Claro que trabalhamos bastante a questão do ciúmes e da possessividade, por isso conversamos muito sobre nossos medos. Já saímos com a mesma menina, com meninas diferentes e mesmo com outro casal de mulheres. É mais fácil quando estamos juntas, pois assim temos menos ciúmes, mas também podemos conhecer pessoas independentemente da outra. A regra é só que não devemos esconder nada. Assim, dificilmente brigamos ou temos uma discussão.”

Glossário de amores possíveis - entenda as diferentes formas de se relacionar:

Poliamor: É a prática de construir relacionamentos conjugais estáveis com mais de uma pessoa, de forma concomitante, consensual e não excludente.

Relacionamento aberto: É um tipo de relação onde o casal se abre para relações sexuais com outras pessoas, sem vínculos afetivos. Os casais em geral têm regras próprias e consentidas por ambos para evitar desentendimentos.

Ménage-a-trois: É uma expressão de origem francesa utilizada para designar os relacionamentos sexuais entre três pessoas. Existe o ménage feminino, um homem e duas mulheres, em que geralmente os maridos gostam de ver sua mulher e outra fazendo sexo. O ménage masculino, com uma mulher e dois homens, quando a mulher faz sexo com dois homens ao mesmo tempo – geralmente um fetiche feminino.

Rede de Relações Livres: RLi é uma rede social real e prática, com grupos organizados em algumas cidades brasileiras. O centro das preocupações da rede é agregar interessados para debater o tabu da monogamia. 

Swing: Os swingers são essencialmente casais que se encontram ocasionalmente para a troca de parceiros sexuais, sem abertura para trocas afetivas românticas. O swing clássico, realizado em clubes ou casas especializadas, pressupõe que um parceiro só pode fazer sexo na presença do outro. A mulher costuma ser a negociadora da entrada de outros parceiros sexuais, mas essa não é uma regra fechada.

Amor Livre: O termo surgiu no século 19 no seio do movimento anarquista, em conjunto com a rejeição da interferência do Estado e da igreja na vida e nas relações pessoais. Seus seguidores acreditam que a igreja e o Estado não têm o direito de definir o que deve ou não ser considerado um relacionamento amoroso. O Amor Livre defende e pratica todo tipo de relação amorosa – inclusive a monogâmica – não atrelada a quaisquer registros formais, posse, controle ou nome.

*Os nomes foram alterados para resguardar a identidade dos entrevistados.
 

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