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Babalorixá comenta sobre “branqueamento” no terreiros de religiões afrobrasileiras

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Babalorixá comenta sobre “branqueamento” no terreiros de religiões afrobrasileiras

Babalorixá Paulo D' Oxum, do Ylê Axé Oxum Filandareir comenta

Por Camaçari Notícias

Paulo D' Oxum é especialista em História da Cultura Afro Brasileira e Indígena (Foto: Arquivo pessoal)

As religiões de matriz africana, compostas predominantemente por pessoas negras, vêm passando por um processo de transformação com a participação cada vez maior de pessoas de pele clara, como mostram os dados do Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que apontam que 52% dos brasileiros que seguem umbanda ou candomblé são pretos ou pardos. Porém, levando em conta só umbandistas, a branquitude representa 54%.

Partindo destes dados, o Camaçari Notícias entrevistou o Babalorixá Paulo D' Oxum, do Ylê Axé Oxum Filandareir, localizado no bairro Parque das Mangabas. Paulo é assistente social, pedagogo e historiador, especialista em História da Cultura Afro Brasileira e Indígena, Especialista em Educação Especial Inclusiva, Mestre em Educação e Doutorando em Educação.

CN1: Existe algum tipo de racismo reverso dentro dos terreiros?

Paulo D’ Oxum: Não existe racismo reverso em nenhum espaço social, nem nos terreiros nem na sociedade em geral. O que existe é uma falta de compromisso das pessoas não negras em estudar, pesquisar e assumir suas posições de privilégio. E de outro lado, há também um mau-caratismo racial que tenta tirar o foco sobre a necessidade de pessoas brancas de terreiro assumirem uma postura antirracista no terreiro e nas suas vidas fora do terreiro.

CN1: O senhor acredita que a conexão espiritual com a ancestralidade africana de uma pessoa branca pode ser igual a de uma pessoa preta?

Paulo D’ Oxum: A conexão ancestral nos terreiros são espaços e demandas das pessoas negras. A pessoa branca pode encontrar amparo, cuidados e vivências dentro de qualquer terreiro, mas a conexão ancestral africana perpassa necessariamente por corpos, experiências e heranças que estão inscritas em pessoas pretas. Sim, aqui também se inserem traumas registrados na memória e em nossos genes.

CN1: Que mensagem o senhor deixa sobre o assunto?

Paulo D’ Oxum: Gostaria de lembrar que os terreiros são patrimônios materiais e espirituais de todo o povo preto desse país. Desse modo, precisamos compartilhar as verdadeiras histórias de beleza e potência dos nossos terreiros e orixás, porque somente assim teremos terreiros com realidades raciais mais próximas à ancestralidade que nos compõe enquanto maioria negra nesse país.

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