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Crise entre Carrefour e pecuaristas brasileiros gera reações no mercado e na política
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Conflito entre frigoríficos brasileiros e Carrefour gera tensões no mercado global de carne, com reações do agronegócio e apoio a boicote após decisão do grupo francês de suspender compras de carne do Mercosul.
Por Camaçari Notícias
Os principais frigoríficos brasileiros suspenderam o fornecimento de carne ao Carrefour, em resposta ao anúncio do presidente mundial da empresa, Alexandre Bompard, de que a rede francesa não venderá carne produzida em países do Mercosul, incluindo o Brasil, em seus pontos de venda na França. A decisão, anunciada na última quarta-feira (20), gerou uma onda de protestos no Brasil, com associações do agronegócio, frigoríficos e entidades políticas pedindo uma retratação pública do Carrefour.
O Carrefour, que também comanda a rede Atacadão, negou que haja desabastecimento nas lojas brasileiras. Em uma nota oficial, a empresa afirmou que a comercialização de carne segue ocorrendo normalmente, sem interrupções. “Nenhuma loja está desabastecida”, destacou a rede.
No entanto, a Masterboi, um dos maiores frigoríficos do Brasil, confirmou que interrompeu o fornecimento ao Carrefour na sexta-feira (22), e fontes ouvidas pela Folha de S.Paulo indicaram que a JBS, com sua marca Friboi, também parou de entregar carne bovina ao grupo na última quinta-feira (21). A JBS, por sua vez, não se manifestou oficialmente sobre o assunto.
Além dos frigoríficos, um grupo de 44 associações do agronegócio brasileiro expressou indignação com a postura do Carrefour. As entidades, que incluem a Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes) e a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), aguardam uma retratação pública do grupo francês. Para eles, a decisão não é apenas sobre o fornecimento de carne para o Carrefour francês, mas sobre o impacto que ela pode ter na imagem da carne brasileira em outros mercados internacionais. O temor é de que a medida se espalhe para outros países europeus, prejudicando os pecuaristas e exportadores brasileiros.
Na manhã de sábado (23), as 44 associações assinaram uma carta aberta ao executivo francês, argumentando que a decisão do Carrefour demonstra uma “abordagem protecionista” incompatível com o papel de uma empresa global. A carta destaca os avanços da pecuária brasileira nos últimos 30 anos, com aumento de 172% na produtividade e redução de 16% na área de pastagem, além de apontar que a legislação ambiental brasileira é uma das mais rigorosas do mundo. “Se uma carne brasileira não serve para abastecer o Carrefour na França, é difícil entender como ela poderia ser considerada adequada para abastecer qualquer outro mercado”, afirma o texto.
O agronegócio brasileiro não foi o único a se posicionar contra a medida. Seis importantes entidades, incluindo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), também assinaram uma nota de repúdio. Além disso, o setor de hotéis e restaurantes de São Paulo, por meio da Fhoresp, se uniu ao protesto, pedindo um boicote ao Carrefour e enfatizando a importância de respeitar os produtos que enriquecem seus acionistas.
A decisão do Carrefour e suas consequências
A medida do Carrefour é uma resposta a pressões de sindicatos de agricultores franceses, que buscam proteger o setor agrícola local contra a concorrência internacional, especialmente em um momento em que o Brasil se prepara para um possível acordo de livre-comércio com a União Europeia. Bompard argumentou que a decisão também está alinhada com as crescentes preocupações ambientais e as normas rigorosas da Europa. O Carrefour pretende inspirar um movimento mais amplo de solidariedade entre os setores agroalimentar e varejista, conforme afirmou em seu comunicado.
O boicote à carne do Mercosul não é exclusivo do Carrefour. O grupo francês Les Mousquetaires, proprietário da rede Intermarché, também anunciou que não comprará carne de países da América do Sul, como o Brasil. A reação ao boicote gerou tensões entre Brasil e França, com líderes políticos brasileiros defendendo boicotes ao Carrefour em território nacional. Além disso, a postura do Carrefour tem gerado debate sobre a possível aprovação de um acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia, que poderia ser prejudicado pela resistência de países como a França.
Este episódio coloca em evidência a crescente tensão entre os interesses comerciais do Brasil e a agenda política e ambiental da União Europeia, além de destacar a relevância do mercado francês para as exportações brasileiras, especialmente de carne. A crise também evidencia a interdependência global e os desafios que as grandes corporações enfrentam ao navegar por demandas locais e internacionais.
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