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Em depoimento à CPMI, Walter Delgatti Netto elencou nomes de autoridades que teriam pedido para ele cometer ilícitos.
Por: Sites da Web
Em depoimento à CPMI, Walter Delgatti Netto elencou nomes de autoridades que teriam pedido para ele cometer ilícitos. Foto: Geraldo Magela/Agência Senado
Durante depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro, nesta quinta-feira (17), o hacker Walter Delgatti Netto deu nomes de quem lhe fez pedidos para cometer crimes. Ele deu a informação em respostas de questionamentos feitos pelo deputado federal Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ). As informações são do portal O Tempo*
Confira a lista por meio das perguntas e respostas:
Vieira: Quem pediu para o senhor tentar fraudar esse sistema [das urnas eletrônicas]?
Delgatti: Carla Zambelli [deputada federal], por ordem do presidente [Jair] Bolsonaro.
Vieira: Quem pediu para o senhor assumir a autoria de um suposto grampo contra o ministro Alexandre de Moraes?
Delgatti: O presidente Bolsonaro.
Vieira: Quem te convidou para fazer propaganda eleitoral para sugerir ao povo uma suposta fraude no sistema eleitoral?
Delgatti: O marqueteiro Duda [Lima, marqueteiro de Bolsonaro nas eleições de 2022] e o presidente Bolsonaro.
Vieira: Quem te encaminhou ao Ministério da Defesa para elaborar questionamentos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre o sistema de votação?
Delgatti: O então presidente Bolsonaro.
Vieira: Quem te disse que se o senhor cometesse um ilícito seria perdoado e receberia um indulto?
Delgatti: O então presidente Bolsonaro.
Vieira: Quem te deu carta branca para agir até mesmo na ilegalidade?
Delgatti: O então presidente Bolsonaro.
Hacker diz que Bolsonaro prometeu indulto em caso de condenação
Assim como já havia dito em entrevistas e em depoimento à PF, Delgatti Netto reafirmou na sessão do colegiado, na manhã desta quinta, ter sido contratado pela deputada Carla Zambelli para participar de atividades criminosas. Mas ele trouxe novos elementos, comprometendo, entre outros, Jair Bolsonaro e o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, com quem diz ter tido conversas para traçar um plano contra o TSE, as urnas e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Nos encontros, teria sido orientado a apontar falhas no sistema eleitoral brasileiro, mesmo sem provas, inclusive com a divulgação de um vídeo em 7 de setembro de 2022 – quando bolsonaristas foram às ruas contra o Poder Judiciário. Em troca, ele ganharia emprego e indulto presidencial para se livrar de prováveis condenações. As declarações do hacker comprometem ainda oficiais das Forças Armadas.
“Sim, recebi (proposta de benefício judicial). Inclusive, a ideia ali era eu receber um indulto do presidente. Ele havia concedido indulto ao deputado (Daniel Silveira) e como eu estava investigado pela (operação) Spoofing, impedido de acessar a internet e trabalhar, eu estava visava esse indulto, que foi oferecido no dia”, disse Delgatti Netto após pergunta da relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA).
No depoimento, o hacker disse ter se reunido com Jair Bolsonaro durante um café da manhã que durou cerca de uma hora e meia, em 10 de agosto, no Palácio da Alvorada. Ainda segundo Delgatti Netto, no encontro, em que Zambelli também estava presente, o então presidente da República o questionou sobre a possibilidade de invadir as urnas eletrônicas. Em caso de ser pego, Bolsonaro teria assegurado que lhe concederia um indulto.
“[Bolsonaro] Disse que eu estaria salvando o Brasil, contou que teve acesso ao inquérito da PF de 2018 e disse ‘na parte técnica não entendo nada, preciso que você vá ao Ministério da Defesa e fale com os técnicos’”, afirmou Delgatti Netto, após ser questionado por Eliziane Gama.
No depoimento à CPMI, o hacker disse ainda que, em outra ocasião, Bolsonaro pediu para ele assumir a autoria por um grampo ilegal contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Delgatti Netto contou que estava em um posto de combustíveis com Carla Zambelli, que pegou um chip novo e colocou no celular dele para conversar com o presidente da República. “Bolsonaro disse pra mim: ‘Fique tranquilo. Se alguém te mandar prender, eu mando prender o juiz’”, contou Delgatti Netto ao microfone da CPMI. “Eu concordei porque era uma proposta do presidente da República”, ressaltou o hacker.
Ao ser questionado pelo deputado federal Duarte Junior (PSB-MA), Delgatti Netto afirmou que Bolsonaro lhe deu “carta branca” para que ele fizesse “o que quisesse” com relação às urnas eletrônicas.
“Ele [Bolsonaro] me deu carta branca para fazer o que eu quisesse relacionado às urnas. Eu poderia, segundo ele, cometer um ilícito que seria anistiado, perdoado, indultado no caso”, afirmou o hacker.
Hacker diz que foi convidado para estrelar campanha de Bolsonaro com fake news contra urnas
O hacker contou também que foi convidado para estrelar a campanha à reeleição de Bolsonaro, com vídeos em que colocaria em xeque a segurança do sistema eleitoral.
Delgatti Netto disse que Zambelli e Valdemar Costa Neto mediaram um encontro com o marqueteiro Duda Lima, que coordenou a campanha de Bolsonaro em 2022. Segundo o hacker, Lima propôs duas formas dele colaborar com a candidatura do ex-presidente: falar sobre possíveis vulnerabilidades das urnas em entrevista à veículos de imprensa de esquerda ou acessar publicamente um dispositivo de votação em 7 de setembro do ano passado para “provar” que é possível que o voto de um candidato seja transferido para outro. As duas ideias foram descartadas porque a reunião com a cúpula da campanha bolsonarista foi divulgada pela imprensa.
O hacker contou à CPMI que a ideia da campanha de Bolsonaro foi que ele simulasse o sistema da urna para inserir um voto e aparecer outro. “A ideia do Dula (Lima) era que eu criasse um código meu, não do TSE, um fake”, contou Delgatti Netto ao microfone.
“A segunda ideia era, no dia 7 de setembro, eles pegarem uma urna, colocar um aplicativo meu lá e mostrar à população que é possível apertar um voto e sair outro. Eu faria o código-fonte da urna, não o do TSE. E nesse código meu eu inseria essas linhas, de códigos maliciosos. Feita para mostrar que a urna, se manipulada, sairia outro resultado. Um código-fonte fake”, relatou o hacker.
Delgatti Netto diz que fez o relatório do Ministério da Defesa sobre urnas
No depoimento à CPMI, Delgatti Netto afirmou que praticamente elaborou todo o relatório dos militares entregue à Comissão de Transparência das Eleições em 2022 que dizia não haver como comprovar fraude nem que não haveria fraude. Essa informação foi propagada por aliados e apoiadores do então presidente Jair Bolsonaro (PL), como se fosse de técnicos em informática das Forças Armadas, para desqualificar o sistema eleitoral brasileiro.
O hacker contou ter ido cinco vezes ao Ministério da Defesa para se reunir com técnicos da pasta, tendo contato com o então ministro Paulo Sérgio, além de contato indireto com o então comandante do Exército, Freire Gomes. Delgatti Neto disse à CPMI que “orientou” a íntegra do conteúdo do relatório do Ministério da Defesa sobre as urnas eletrônicas entregue ao TSE em novembro de 2022, após as eleições presidenciais.
“A ideia inicial era que eu inspecionasse o código-fonte, só que eles explicaram que o código-fonte ficava somente no TSE e apenas servidores do Ministério da Defesa teriam acesso a esse código. Então, eles iam até o TSE e me repassavam o que eles viam, porque eles não tinham acesso à internet, eles não podiam levar uma parte do código; eles acabavam decorando um pedaço do código e me repassando”, relatou Delgatti Netto à CPMI.
“[Estive lá no Ministério da Defesa] cinco vezes. Eu conversei com o ministro [Paulo Sérgio] Nogueira e também com o pessoal da TI. A ideia inicial era que eu inspecionasse o código-fonte, mas eles explicaram que ele só ficava no TSE e apenas servidores do Ministério da Defesa teriam acesso. Tudo que expliquei a eles consta no relatório que foi entregue ao TSE. Eu posso dizer que aquele relatório, de forma integral, foi exatamente o que eu disse. Eu apenas não digitei, mas eu que fiz ele porque tudo o que consta nele foi indicado por mim”, completou o hacker.
O relatório não apontou qualquer fraude na votação, mas pediu que o tribunal eleitoral fizesse “ajustes” no sistema eleitoral já rejeitados tecnicamente por entidades fiscalizadoras e disse que não era possível atestar a “isenção” das urnas. A conclusão do Ministério da Defesa divergiu de todas as demais entidades fiscalizadoras nacionais e internacionais, unânimes em comprovar que a urna eletrônica é segura e que as eleições foram limpas.
“Eu estava desamparado, sem emprego, e ofereceram um emprego a mim”
Durante seu depoimento inicial à CPMI, Walter Delgatti Neto detalhou seu encontro com Carla Zambelli e afirmou ter aceitado a reunião com a parlamentar por ela ter lhe oferecido um emprego.
“Nisso, apareceu a oportunidade da deputada Carla Zambelli de um encontro com o Bolsonaro. Ele queria que eu autenticasse a lisura das eleições e, por ser o presidente da República, eu fui ao encontro. Eu estava desamparado, sem emprego, e ofereceram um emprego a mim. Por isso que fui até eles”, declarou Delgatti.
Em 28 de julho do ano passado, Zambelli publicou nas redes sociais uma foto com Delgatti. “O homem que hackeou 200 autoridades, entre ministros do Executivo e do Judiciário brasileiro. Muita gente deve realmente ficar de cabelo em pé (os que têm) depois desse encontro fortuito. Em breve, novidades”, escreveu na legenda.
À PF, Delgatti Netto afirmou na quarta (16), que recebeu R$ 40 mil de Zambelli para invadir e inserir dados falsos nos sistemas de tecnologia do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em janeiro deste ano. Ele inseriu documentos e alvarás de soltura falsos no Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP). O ataque inseriu de forma ilegal 11 alvarás de soltura de pessoas presas e um falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes. Por isso o hacker foi preso preventivamente no início de agosto.
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