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Inflação e a alta do preço do café: Um pânico coletivo que afeta a vida dos brasileiros

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Inflação e a alta do preço do café: Um pânico coletivo que afeta a vida dos brasileiros

Custo do café dispara em meio à crise climática e econômica, colocando a rotina dos brasileiros em xeque e gerando estratégias de sobrevivência no consumo.

Por: Camaçari Notícias

Foto: Divulgação / Youtube

A inflação, que já impacta diretamente o cotidiano de milhões de brasileiros, ganha um contorno ainda mais alarmante quando se trata do café. O aumento do preço dessa bebida, um verdadeiro símbolo da cultura nacional, tem gerado um verdadeiro pânico. Com o produto cada vez mais caro, estratégias de economia passaram a circular com destaque nas redes sociais e nas conversas cotidianas: preparar apenas a quantidade necessária e evitar desperdícios se tornaram quase um ato de resistência.

Em 2024, o preço do café subiu impressionantes 46%, impulsionado por uma combinação de fatores climáticos e econômicos. Segundo Marcos José Valle, professor e especialista em Ciências Econômicas, o aumento está diretamente ligado à escassez de chuvas e às altas temperaturas que prejudicaram a produção do grão arábica, o mais cultivado no Brasil. “A escassez de chuvas e as altas temperaturas impactaram negativamente a produção. Além disso, países concorrentes como Colômbia, Vietnã e Indonésia também enfrentaram dificuldades na produção e distribuição, o que aumentou a demanda pelo café brasileiro no exterior. A valorização do dólar, por sua vez, tornou as exportações mais atraentes para os produtores, o que reduziu a oferta interna”, explica Valle.

O especialista destaca que o café é uma commodity – uma mercadoria negociada globalmente e cujos preços internos são influenciados por fatores internacionais. Apesar de um crescimento na produção entre 2023 e 2024, o cenário global continua a pressionar os preços no Brasil. No entanto, o professor alerta que o aumento do preço não se deve apenas ao mercado global, mas também aos altos custos de produção. Insumos agrícolas importados, como fertilizantes e defensivos, estão com preços elevados, o que resulta na chamada inflação importada. Esse cenário provoca um efeito de inflação de oferta, o que, somado à cultura enraizada do consumo de café, agrava a inflação de demanda, gerando o fenômeno conhecido como inflação cruzada.

A inflação cruzada, segundo Valle, acontece quando o aumento de preços em um setor acaba retroalimentando a alta em outros setores da economia, dificultando a estabilização dos preços. Esse processo contribui para o aumento das dificuldades financeiras enfrentadas pela população.

“Em um cenário como esse, é normal que o mercado se apresse em oferecer alternativas, mas nem todas elas são de fato soluções viáveis. Começam a surgir produtos alternativos, como o CaFAKE – um 'café' que, na melhor das hipóteses, apenas lembra o sabor do original, mas não é, de fato, café”, destaca o professor.

A perspectiva para os próximos meses não é animadora. Valle alerta que o calor intenso e as chuvas podem aumentar a incidência de fungos nas plantações e nos estoques, o que pode prejudicar ainda mais a oferta e, consequentemente, pressionar os preços para cima.

Diante de tantas dificuldades, o especialista faz uma reflexão sobre a situação: “Sugerir que as pessoas substituam o café por chá neste momento é tão insensível quanto a frase atribuída a Maria Antonieta, durante a Revolução Francesa: 'Se não têm pão, que comam brioches'. Não podemos ignorar o valor simbólico e social do café para o brasileiro."

Valle finaliza sua análise com um tom de alerta e de humor: “Resta-nos acompanhar os próximos capítulos desse drama e torcer para que uma eventual abstinência coletiva de café não leve a consequências imprevisíveis. Afinal, um Brasil sem café pode ser um Brasil à beira de um ataque de nervos.”

Com isso, a população segue na expectativa, enquanto os preços do café continuam a subir, e a cultura cafeeira brasileira se vê ameaçada por um cenário econômico que parece cada vez mais incerto.

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