Usamos cookies para personalizar e melhorar sua experiência em nosso site e aprimorar a oferta de anúncios para você. Visite nossa Política de Cookies para saber mais. Ao clicar em "aceitar" você concorda com o uso que fazemos dos cookies

Notícias

/

Meio Ambiente

/

Bahia tem área desmatada superior a 400 campos de futebol por dia

Meio Ambiente

Bahia tem área desmatada superior a 400 campos de futebol por dia

Estado é o quinto com maior desmatamento no Brasil, informa relatório.

Por Pesquisa Web

Queimada em região do Matopiba (Thiago Foresti / IPAM)

Uma área superior a 400 campos de futebol foi desmatada diariamente em 2021, na Bahia. Segundo o Relatório Anual de Desmatamento no Brasil do MapBiomas, divulgado nessa segunda-feira (18), a Bahia é o quinto estado brasileiro com maior devastação no país, com média de perda diária de 417 hectares por dia. A taxa representa um aumento de 43,5% em relação ao ano anterior. As informações são do Jornal Correio*

Sete municípios baianos estão na lista dos 50 que mais desmataram em 2021. São eles: São Desidério (12º), Formosa do Rio Preto (15º), Jaborandi (19º), Cocos (38º), Correntina (39º), Santa Rita de Cássia (45º) e Baianópolis (47º). Além do foco apontado no oeste do estado - onde se encontram os municípios citados -, o relatório ainda mostra que a concentração principal de desmatamento está na Amazônia. 

Diretor executivo da SOS Mata Atlântica e coordenador do MapBiomas, Luís Fernando Guedes observa que os quatro estados que vêm antes da Bahia na lista de maior desmatamento abrigam a Amazônia. Ou seja, a Bahia é a primeira unidade federativa fora da floresta amazônica que entra na lista e ainda está à frente de outros estados do Norte, como Acre e Rondônia. 

“É uma situação muito preocupante. A Bahia tem ocorrência de três biomas brasileiros: Mata Atlântica, Caatinga e Cerrado, todos ameaçados. A Bahia despontou [...] porque, além de muito grande, está tendo grande expansão da agropecuária brasileira”, afirma. 

Como consequência, Guedes aponta problemas para além da perda da biodiversidade, a exemplo da crise hídrica já vivida em regiões do Nordeste. Ele explica que, como os ecossistemas naturais protegem os rios, quando há desmatamento, os mecanismos de proteção são devastados. Assim, há falta não somente de água, mas também há impacto na geração de energia pelas hidrelétricas e produção de alimentos. 

Outra consequência é o agravamento do efeito estufa e, portanto, intensificação de mudanças climáticas, como aconteceu com as enchentes que atingiram o sul do estado em dezembro de 2021. "Quando há desmatamento, [também se] está emitindo gases de efeito estufa na atmosfera, o que significa ter eventos climáticos mais extremos, desde secas mais longas e intensas quanto tempestades, chuvas e inundações, além de ondas de calor”, explica. 

"Todo o processo de desmatamento tem impacto não só na região, mas no planeta inteiro", diz Paulo Bellonia, fundador e presidente da Save Cerrado

Jaborandi teve maior desmatamento detectado no Cerrado em 2021 

O relatório evidencia que Jaborandi, na Bahia, teve o maior desmatamento detectado no bioma Cerrado em 2021. Foram 4.977 hectares perdidos - equivalente a quase cinco mil campos de futebol. Entre 2020 e 2021, a cidade teve aumento de 111,4% na taxa de devastação ambiental. A reportagem entrou em contato com os sete municípios do estado que foram citados no relatório solicitando posicionamento, mas apenas São Desidério retornou. 

Segundo o secretário de Meio Ambiente da cidade, Joabe Almeida, o Cerrado tem sido devastado na região e existe ausência de efetividade na legislação ambiental. Ele acredita, contudo, que o protagonismo nos dados também se deve a São Desidério ser o segundo maior município da Bahia em extensão territorial. 

“Temos umas das principais bacias hidrográficas do Brasil. O Rio Grande e outros afluentes dessa bacia nascem aqui em São Desidério, e o Cerrado é um bioma importantíssimo nesse sistema hídrico que alimenta os rios. É preocupante”, avalia.

Agricultora em São Desidério, Suely de Barros, 43, conta que a renda e a rotina de colheita têm sido afetadas pela degradação. “Trabalho com colheita do pequi e [hoje] tenho que buscar muito longe porque por perto não tem mais o que catar. Não está nascendo mais. O que mais afetou na colheita do ano passado foi o fogo. A gente não teve nem como colher porque o fogo pegou tudo”, lamenta. 

Situação semelhante aconteceu com David Barros, 33, enquanto trabalhava em uma fazenda na mesma região de Suely. “O fogo atingiu alguns animais. Acabou a fazenda. Quando o fogo vem e o capim está muito seco, se não tiver alguém para cortar o arame do cercado, não tem como o gado sair. Tem que estar atento na plantação”, recorda. “O que mais tem nessa época […] são as queimadas. Algumas são naturais, outras são falta de consciência. É difícil controlar porque quando a gente vê o fogo já está bem alto não tem como controlar”, acrescenta. 

Os moradores citam a Brigada de Incêndio como atividade que tem ajudado os agricultores a ter a própria renda. 

Ações estaduais

Especialistas e representantes afirmam que a punição para o desmatamento é baixa e precisa ser intensificada. Na Bahia, apenas 1,7% do número total de alertas de desmatamento no estado foram respondidos com algum tipo de ação. O relatório mostra que 30 alertas tiveram ação dos órgãos estaduais do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) e Ministério Público entre 2020 e 2021. As áreas atendidas representam 0,3% do número total de alertas no estado.  

Os estados com a maior proporção do desmatamento respondido com algum tipo de
ação foram Espírito Santo (86,3%), Mato Grosso (66%), Minas Gerais (43,2%) e Tocantins (40,9%). 

Coordenador do Laboratório de Ecologia e Conservação (ECO) da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Ricardo Dobrovolski defende que o Inema, assim como a Secretaria do Meio Ambiente (Sema) têm profissionais competentes, no entanto, não representam diretamente o governo do estado. 

“Existe conivência do estado com esse processo de desmatamento. [A ação em] grande proporção é ilegal, com assinatura dos órgãos da Bahia. Se por um lado houve golpe [nas políticas ambientais] de extrema-direita no federal, o estadual, embora seja do partido de centro-esquerda, [também] tem conivência com a exploração ambiental”, assegura. 

"Há conivência [estadual e federal] com a exploração ambiental. Sem dúvidas."

A reportagem entrou em contato com o Sema e Inema solicitando das entidades as ações feitas mediante o cenário de desmatamento na Bahia, no entanto, não recebeu retorno. 

Neste contexto, a ideia defendida por Paulo Bellonia, fundador e presidente da Save Cerrado é buscar associação com a iniciativa privada. Para ele, é legítimo o uso de pagamentos por serviços ambientais, quando propriedades privadas que tiverem floresta nativa preservada receberem recursos para manter a área sem desmatamento. Apesar das críticas, especialistas ainda concordam que é dever público fortalecer órgãos estaduais e federais em prol da fiscalização do desmatamento ilegal. 

Cinco estados com maior desmatamento:

1º Pará
2º Amazonas
3º Mato Grosso
4º Maranhão
5º Bahia

Siga o CN1 no Google Notícias e tenha acesso aos destaques do dia!  

Tópicos relacionados

Relacionados

VER TODOS