Lula critica modelo de gestão da Vale e alerta para riscos de fragmentação

Em uma visita ao Centro de Operações Espaciais Principal (Cope-P) da Telebras, em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) expressou duras críticas ao modelo de gestão da Vale, destacando os desafios enfrentados pela companhia devido à sua estrutura societária fragmentada. Segundo Lula, a dispersão das participações acionárias, onde “um monte de gente” detém pequenas fatias de 2% ou 3% da empresa, transforma a mineradora em algo semelhante a um "cachorro de muito dono", que acaba por sofrer com a falta de atenção e cuidados.

“A Vale, que tinha uma diretoria, eu sabia quem era o presidente, a gente sabia quem era. Hoje nessa discussão que a gente está, de fazer um acordo para receber dinheiro de Mariana, o dinheiro que prometeram pro povo, você não tem dono. Uma tal de corporate que não tem dono, monte de gente com 2%, monte de gente com 3%. É que nem cachorro de muito dono, morre de fome, morre de sede porque todo mundo pensa que colocou água, todo mundo pensa que deu comida e ninguém colocou”, afirmou o presidente.

As declarações de Lula refletem sua preocupação com a falta de liderança clara na Vale, especialmente em um momento crítico em que a empresa negocia reparações pelos danos causados pelo rompimento da barragem de Mariana. O desastre, ocorrido em 2015, continua a ser uma ferida aberta para as comunidades afetadas, e o presidente enfatizou a necessidade de responsabilização e de um compromisso real com a justiça para as vítimas.

Lula também aproveitou a ocasião para criticar o que chamou de "cúmulo da ignorância" em relação às estatais brasileiras, que, segundo ele, foram praticamente proibidas de vender serviços ao estado, mesmo quando poderiam oferecer preços mais competitivos. “É ignorância levada à sétima potência, um estado que não se respeita, governo que não tem visão de estado, tem coisas que têm ser inexoravelmente do estado. É assim na Alemanha, EUA, França”, pontuou o presidente.

As críticas de Lula ocorrem um dia após o Conselho de Administração da Vale anunciar a escolha de Gustavo Pimenta, atual vice-presidente de Finanças e Relações com Investidores, como novo presidente da companhia. Pimenta assumirá o comando da empresa em 28 de fevereiro de 2025, substituindo Eduardo Bartolomeo, cujo mandato terminou em maio deste ano. A transição ocorre após meses de indefinição sobre a liderança da Vale, durante os quais o nome do ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, chegou a ser cogitado como possível candidato ao posto.

A fala de Lula ressalta a tensão entre o governo e a gestão atual da Vale, em um momento em que a mineradora tenta superar os desafios deixados pelo rompimento da barragem de Mariana e busca redefinir seu papel no cenário econômico e social do país. A escolha de Gustavo Pimenta pode sinalizar uma nova direção para a empresa, mas as críticas do presidente indicam que o caminho para a reconciliação com o governo ainda pode ser longo e difícil.