Moradores do Santo Antônio Além do Carmo enfrentam transtornos com eventos e falta de infraestrutura durante o verão em Salvador

A chegada do verão em Salvador, marcada pelo aumento de turistas e eventos culturais no Centro Histórico, trouxe também uma série de transtornos para os moradores do Santo Antônio Além do Carmo. Enquanto o período atrai diversas pessoas em busca de lazer, quem vive na região tem que lidar com problemas como o som alto proveniente das festividades e cenas desagradáveis, como a utilização de espaços públicos, como postes e paredes, como mictórios a céu aberto.

Na madrugada de domingo (12), moradores da localidade flagraram novamente diversas pessoas fazendo suas necessidades nas ruas, utilizando veículos e até mesmo as fachadas das casas como banheiro. Essa situação recorrente tem gerado indignação entre os residentes, que já não sabem mais como lidar com o problema.

Para tentar amenizar os transtornos, muitos moradores recorreram a uma solução improvisada: a colocação de placas nas residências alertando para o fato de que o local é habitado. Mensagens como "Aqui mora gente" e "Não mije aqui" têm se tornado comuns nas fachadas das casas da região.

Em entrevista recente, Carolina Zanetti, presidente da Associação de Moradores do Santo Antônio Além do Carmo, expressou o descontentamento da comunidade. Segundo ela, a intensa concentração de pessoas no bairro, por conta dos eventos, tem comprometido o descanso dos moradores, muitos dos quais são idosos e trabalham durante o dia.

"As pessoas aqui já não podem mais dormir. É um bairro que tem muitos idosos, um bairro em que as pessoas trabalham de manhã. O Santo Antônio Além do Carmo sempre foi um bairro que tem festa, boemia, música, cultura e turistas. Eu acho que as pessoas que moram aqui ou que vêm morar aqui sabem disso e gostam disso, mas existe um limite nessas relações, em que tem que ser considerado o aspecto majoritariamente residencial do bairro", afirmou Carolina.

A situação também gerou uma resposta da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (Sedur), que, em nota, informou que realiza ações constantes de combate à poluição sonora na região. De acordo com a legislação municipal 5354/98, a emissão de ruídos em Salvador é permitida até 70 decibéis entre 7h e 22h, e até 60 decibéis entre 22h e 7h.

Além disso, a Sedur, por meio da Central de Licenciamento de Eventos (CLE), revelou que o processo de licenciamento para os eventos está em análise. No entanto, imagens enviadas à redação mostram que uma estrutura do festival já estava montada na área.

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) também se manifestou sobre o caso. O órgão informou que recebeu a denúncia e está avaliando os impactos dos eventos na área, que é tombada como patrimônio cultural. O Iphan destacou que autorizou apenas a montagem de estruturas provisórias, como palco, pórtico, sanitários químicos e tendas, para o evento, levando em consideração os eventuais impactos ao patrimônio.

Enquanto as autoridades buscam soluções para os problemas enfrentados pelos moradores, o bairro de Santo Antônio Além do Carmo continua a ser palco de tensões entre a preservação de seu caráter residencial e a vivência de sua tradicional boemia e eventos culturais.