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Polícia
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Jorge Batista
(Foto: Evandro Veiga/CORREIO)
Todos os dias ele acorda e, como um ritual, reza um pai-nosso, uma ave-maria e pede proteção a São Jorge. Católico, o motorista Jorge Batista, 51 anos, garante que só a fé salva. Batizado em homenagem ao "santo guerreiro", ele nunca se aproximou de um dragão, como diz a lenda sobre São Jorge, mas lida diariamente com a insegurança de trabalhar debruçado em um volante de ônibus, nas ruas de Salvador. A profissão, que escolheu por amor há 25 anos, colocou Jorge nos dois momentos mais arriscados de sua vida.
O primeiro foi no dia 22 de julho, por volta de 6h, quando o ônibus 30159, conduzido por ele, sofreu um assalto. Na ocasião, uma pessoa morreu e outras cinco ficaram feridas. Nesta terça-feira (25), o mesmo ônibus iniciava o trajeto, no mesmo horário, quando dois homens anunciaram um assalto, um passageiro reagiu e matou um dos suspeitos. De novo, era Jorge no volante.
As duas situações ocorreram em menos de três meses e o motorista, que já trabalhou como mecânico, não pensa em desistir da profissão. Separado, morador do Alto de Cabrito, e pai de três filhos, ele garante que cada um tem seu destino e não adianta fugir dele. O ônibus 30159 vai continuar sob o comando do fiel motorista, que prometeu chegar em casa e agradecer a proteção de São Jorge, como faz todos os dias.
Qual é o seu sentimento, depois de escapar ileso de duas situações tão arriscadas?
A situação é sempre a mesma, né, eu tento ficar calmo e não reagir. É a única coisa que podemos fazer. Eu não imaginava passar por isso pela segunda vez, de um jeito tão parecido, mas é isso mesmo. Me sinto bem, estou bem.
Ao longo de sua vida, já passou por coisa parecida?
Não. Só o outro assalto, em julho, que deixou aquelas pessoas feridas e uma morta. Foi horrível daquela vez porque foi um inocente e foi triste agora também. Eu moro no Alto do Cabrito, na região lá, nunca vi de perto esse tipo de coisa, não.
É casado? Tem filhos?
Sou separado e tenho dois filhos, de 7 e 22 anos, e uma filha de 25. E uma mãe que eu prezo muito, também.
Ficaram sabendo do que aconteceu hoje? E eles, como reagem, já tentaram te convencer a mudar de profissão?
Não. Eles sabem que é o que eu amo fazer e não me vejo fazendo outra coisa. Claro que se preocupam e tudo, mas não adianta, eu só paro se for para me aposentar. Já estão sabendo, eu liguei para tranquilizar, antes que soubessem pela TV.
E antes de ser motorista, o que o senhor fazia?
Eu era mecânico. Há 25 anos virei motorista de ônibus, sempre sonhei com isso.
Mas como foi isso? Quando o senhor começou a dirigir?
Eu comecei a dirigir com 14 anos, dirigia carros pequenos e era uma coisa que eu adorava. Quando completei 18 anos, ganhei do meu cunhado minha primeira habilitação. Na época, fazia trabalhos como mecânico, fiz durante um tempo, mas foi aí que eu comecei a sonhar com essa profissão. Tem 25 anos que sou feliz com meu trabalho, apesar de tudo.
E qual é a melhor coisa de ser motorista? Não é uma profissão é de risco?
O dia a dia é bom, gosto do contato com as pessoas, do trabalho, de dirigir, mesmo. É de risco, claro, mas tem muitas outras profissões que também são de risco.
O senhor trabalha com medo?
Não, quando estou segurando o meu volante eu não sinto medo e nem lembro que algo assim pode acontecer. É um susto, porque eu não ando esperando que nada de mal me aconteça. Mas acontece.
É religioso? Tem alguma coisa que o senhor faz para se sentir protegido?
Eu sou católico, todos os dias eu rezo um pai-nosso e uma ave-maria antes de sair pro trabalho. Deito para dormir e acordo me entregando e pedindo proteção a deus, porque só a fé pode salvar a gente do mal.
É devoto de São Cristóvão, padroeiro dos motoristas?
Sou, sou devoto de muitos santos, mas principalmente de São Jorge. Meu nome veio como uma homenagem a ele e a ele eu peço proteção, todos os dias. Eu sei que ele me protege em todos os momentos.
O senhor desenvolveu algum problema psicológico decorrente dessas experiências?
Graças a deus, não. Eu estou ótimo psicologicamente.
O Sindicato dos Rodoviários afirmou que sugere aos motoristas que passam por situações de violência um afastamento da função, por meio do Certificado de Acidente de Trabalho (CAT). Já pensou em se afastar por um tempo?
Eu não pensei e não vou pensar. Parar, só para aposentar mesmo. Amanhã não vou trabalhar, descansar a mente um pouco... Mas eu não preciso me afastar, sei que não, eu estou bem.
E a linha de ônibus, pretende mudar ou vai continuar no mesmo trajeto e com o mesmo ônibus? O senhor enxerga o que aconteceu como uma coincidência?
Não tenho isso comigo, vou continuar com o mesmo ônibus. Não é coincidência, é que cada pessoa tem seu destino já traçado, minha filha. Eu sou rodoviário, para onde eu vou, o perigo me acompanha, então não adianta mudar. O negócio é ter fé. Vou chegar em casa e agradecer a Jorge, como sempre fiz.
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