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Desnutrição provoca a maior hospitalização de bebês dos últimos 14 anos no Brasil, diz Fiocruz
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Por G1
(Foto: iStock)
Um estudo da Fiocruz concluiu que, em 2021, o número de internações de bebês com desnutrição no Brasil foi o maior dos últimos 14 anos.
Para quem vê Téo cheio de saúde, é difícil imaginar como ele estava há três meses. Ele chegou a pesar apenas cinco quilos, precisando de internação para se recuperar. O bebê de 11 meses ficou no hospital 28 dias porque estava desnutrido e desenvolveu uma infecção. Foi no período em que a mãe, desempregada, não tinha praticamente nada para dar ao filho.
“Isso dói no coração de qualquer mãe. Hoje consigo sustentar ele com as faxinas que eu faço”, diz a mãe de Téo.
Um estudo da Fiocruz mostra que, em 2021, o Brasil teve a pior taxa de internação por bebês de desnutrição dos últimos 14 anos. Foram oito crianças de até um ano de idade levadas ao hospital todos os dias por falta de comida.
O levantamento é do Observa Infância, que reúne pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz e da Unifase. Os dados são do Ministério da Saúde.
Em números absolutos, 2.939 crianças nessa faixa etária precisaram de internação no ano passado. Isso representa uma taxa de 113 internações por 100 mil nascimentos, quase 11% a mais do registrado em 2008, primeiro ano do período analisado pela pesquisa.
Em 2022, apenas os números de janeiro a agosto já mostram uma situação ainda pior, com 7% a mais de internações do que no ano passado. Por dia, são quase nove crianças levadas ao hospital porque têm fome.
A situação mais complexa é registrada no Nordeste, mas o coordenador da pesquisa, Cristiano Boccolini, diz que o problema é grave no país inteiro.
“A gente vê uma concentração desses casos de hospitalização por desnutrição nas capitais, indicando que aqui mesmo no Rio de Janeiro, em São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, grandes centros urbanos a gente tem bolsões de pobreza, bolsões de crianças que estão invisíveis ao sistema público que sofrem desnutrição e estão sendo internadas por causa disso”, afirma.
O atendimento médico no SUS tem evitado o pior. Apesar do aumento das internações, não houve aumento da mortalidade infantil, mas a nutricionista da USP Ana Paula Bortoletto alerta sobre os prejuízos ao desenvolvimento de crianças com meses de vida que ficam sem ter o que comer.
“Essa criança tem consequências de desenvolvimento, e a desnutrição nessa faixa etária pode ser inclusive irreversível, trazendo impactos em relação a déficit de cognição, a déficit de desenvolvimento”, explica.
A mãe de Téo encontrou apoio em uma ONG, no bairro onde mora na zona oeste do Rio, para não faltar mais nada na mesa.
A ajuda é fundamental, mas os pesquisadores lembram que são as políticas públicas que têm força para reverter esse quadro cruel.
“Precisamos conseguir direcionar, melhor o nosso alvo, ser mais eficientes em identificar e alcançar famílias com vulnerabilidade social, famílias que hoje são invisíveis para o sistema público, para o sistema de atenção social”, diz Boccolini.
O Ministério da Saúde informou que repassou no ano passado R$ 345 milhões aos municípios para incentivar ações e fortalecer a atenção de crianças com menos de sete anos e gestantes com má nutrição.
O ministério disse também que acompanha os dados sobre alimentação infantil através do sistema de informação de atenção primária e que tem programas de suplementação nutricional para famílias de baixa renda.
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